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[SEBASTIAN BECK] Monografia

Jul 25, 2016

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Escola da CidadeRua General Jardim, 65Vi la Buarque CEP: 01223-011 – São Paulo SP, Brazi [email protected]

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[AES]

›Um Olhar Distante, uma Vivência no Lugar -

a Sala Volante‹

uma retrospectiva de um intercambio intercultural entre continentes

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSUArquitetura, Educação e Sociedade

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sumário.

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introdução.

história.

conceito.

lugar. palavra. tradição. arquivo. comunidade. sala volante.

2012 sp:lc+df 2013 lc:sp+ch 2014 sp:lc+x 2015 sp:lc+rj

discurso.

bibliografia.

imprint.

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introdução.O objetivo deste trabalho é promover uma reflexão sobre os quatro encontros desenvolvidos e vividos em parceria com a Associação Escola da Cidade de São Paulo e a HTWG Konstanz, University of Applied Sciences da Alemanha. Pano de fundo são as experiências das viagens para Brasil em 2012, Alemanha, Suíça e França em 2013, África do Sul em 2014 e o encontro de 2015, novamente no Brasil. Esse trabalho vai dar luz ao conceito didático desse programa, que tem como base de ensino, o aluno como viajante dentro de uma circunstância desconhecida - um país -, um continente -, uma cultura diferente. O interesse desse trabalho não é somente apresentar um con-ceito diferente de ensino, e sim questionar o perfil do arquiteto contemporâneo. Os arquitetos jovens, recém formados, enfren-tam hoje um campo amplo de possíveis atuações. O mercado do arquiteto e a indústria de construção se tornam cada vez mais um mercado mundial. As fronteiras nacionais não deter-minam necessariamente uma própria linguagem de arquitetura, que tem como busca a identidade nacional. Arquitetura de hoje em dia, corre o risco de se aproximar e se assimilar, sem levar em consideração a sua própria identidade. Assim podemos constatar que o conceito da “Sala Volante” se insere numa discussão interessante: Qual é a sua própria identidade? A partir da vivência em lugares diversos, o olhar do estudante de arquitetura muda. O seu conhecimento se transtorna em uma reflexão sobre a sua própria origem. A “Sala Volante” se entende como início dessa reflexão, uma discussão sobre a sua própria circunstância. Assim podemos compreender as palavras do Paulo Freire que diz: ”Quando o homem compreende a sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim pode transforma-la e o seu trabalho pode criar um mundo próprio, seu Eu e as suas circunstâncias.”

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Filme: Das f l iegende Klassenzimmer, (1954)

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história.A proposta didática da “Sala Volante” começou aflorar em 2010 com uma exposição itinerária que fez estadia na Escola da Cidade em São Paulo. Evidentemente a proposta teve como base a amizade entre a Professora suiça/alemã Myriam Gautschi e um dos fundadores da Escola da Cidade, Professor e Diretor Ciro Pirondi. Os dois se conheceram em 2009, durante a estadia da Professora Myriam Gautschi no Brasil. Ela estava praticando um ano sabático no Rio de Janeiro, elaborando uma pesquisa sobre a vida da designer francesa Charlotte Perriand. Baseada nessa investigação da arquiteta suíça/alemã Myriam Gautschi, os alunos da Universidade HTWG Konstanz desenvolveram uma exposição itinerária, da qual fiz parte, ainda como estudante. O trabalho apresentou Charlotte Perriand, sob o efeito de três culturas totalmente diferentes: Paris (1927-1937), os anos com Le Corbusier e o Modernismo como base do seu pensamento; Tóquio (1940 – 46), a descoberta do vazio; Rio de Janeiro (1962-68), o Brasil representara a opulência, o amor à vida.

A exposição foi construída inteiramente em papelão ondulado, que facilitou o transporte em viagens. Todas as peças eram conectáveis e reutilizáveis. Os cenários da vida da designer fran-cesa foram reproduzidos em peças de papelão e, até mesmo os caixotes que armazenaram os objetos foram reaproveitados como cenários. Essa exposição era a peça chave para começar a pensar em uma “Escola Volante”. A idéia de propor uma “Sala Volante” como programa de ensino nasceu, e no ano seguinte os alunos das duas universidades tinham a possibilidade de par-ticipar do primeiro Summer School SP:LC – 2011 em São Paulo.

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Exposição Charlot te Perriand, Escola da Cidade (2011)

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um dialogo de arquitetura entre continentesA primeira “Sala Volante” foi realizada em 2011 em São Paulo, parte do en-contro foi uma viagem para Brasília. O segundo turno aconteceu consequen-temente em Konstanz na Alemanha, cruzando os Alpes da Suiça indo para La Tourette, o monastério de Le Corbusier perto de Lyon na França. No ano 2014 a “Sala Volante” particpou do congresso UIA - International Union of Architects” in Durban. Em cooperação com a Faculdade de Cape Town foi realizado um Workshop. Em 2015 voltamos para São Paulo, com uma estadia no Rio de Janeiro juntar estudantes e professores da Escola da Cidade e da HTWG Konstanz, University of Applied Sciences.

Konstanz

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Konstanz

La Tourette

São Paulo

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conceito.Compreender a aula como compromisso no local, descobrir com curiosidade novos lugares e conhecer mestres e personagens no dialogo. Isso é a meta e o conteúdo do programa da “Sala Volante”. Arquitetura como disciplina pre-cisa atingir todos os sentidos para poder ser entendido. Isso é significativo para o ensino de arquitetura, pois a vivência no lugar precisa complementar a imagem bidimensional e a palavra dita. A sobreposição entre LUGAR (= Alemão: Ort) e PALAVRA (= Alemão: Wort) transforma a experiência da “Sala Volante” em um elemento formativo no ensino de arquitetura – W:ort. Assim, o lugar torna-se em ensino de espacialidade e o encontro com os mestres torna-se em um ensino de palavra. O diálogo entre lugar, mestre e aluno transforma-se em conteúdo de ensino. Parte do encontro é a construção da amizade. Depois da quarta “Sala Volante” podemos contar com uma trama de contratos e amizades espalhados pelo mundo inteiro.

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Hans Makart , os c inco sent idos

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A palavra “Sala Volante” surgiu de um livro com o mesmo título, escrito pelo auto alemão Erich Kästner no ano 1933. Na história do livro, o professor Dr. Johann, chamado “Justus“, transformava a sala de aula em uma “visita ao local”. Ou seja, o ensino acontece distante da “sala de aula”, no sentido literal da palavra. O ensino acaba sendo ligado a uma casa especifica de ensino. Antes pelo contrário, o próprio ato de ensinar deve criar um ambiente de en-sino que é, com sua própria densidade capaz de abordar todos os sentidos e criar conclusões racionais através de uma reflexão.

A resolução da estacionariedade do ensino, permite acessos (uma imersão) ao novas realidades, espaços distantes e mundos desconhecidos.

lugar.

Para especificar melhor o conceito da “Sala Volante” foram desenvolvidos cinco modulos que compõem o programa didático:

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palavra.O encontro com pessoas diversas, arquitetos, profissionais, ou outros personagens de vida é essencial para a reflexão cultural da “Sala Volante”. A discussão deixa colocar o convidado e sua postura como “mestre de ensino” no centro da atividade. O diálogo acrescenta na aprendizagem da lingua-gem de todos que participam e possibilita uma nova visão da cultura em foco. Aproximando questões sociológicas, políticas, econômicas e ecológi-cas. Acaba revelando uma imagem mais nítida da cultura e da sua técnica de produzir uma linguagem arquitetônica. Para definir o lugar de diálogo a “Sala volante” utiliza um móvel azul como lugar de debate. O móvel, do último encontro no Brasil era um tapete azul, e um convite para dialogar e debater questões. A questão da mobilidade é incorporado no conceito do móvel. A mesa é dobrável e de madeira leve e resistente. A lona é pôr natureza fácil para transportar, se acomoda em qualquer situação espacial e o modo de sentar-se no chão e enraizado na própria cultura brasileira. O diálogo, nesse espaço demarcado, é sempre socrático ou seja em si criativo e recreativo e faz parte da natureza humana, ele não é individual e, portanto, constitui, em si, um ato de aprendizado. O método socrático é uma técnica de investigação filosófica feita em diálogo, que consiste no professor condu-zir o aluno a um processo de reflexão e descoberta dos próprios valores.

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tradição.Exercícios de curto prazo ajudam para compreender questões culturais e tradições. As tarefas discutem geralmente problemas contemporâneos do local. O estudo e uma aproximação da linguagem arquitetônica do local e fundamental para os participantes da “Sala Volante”, mesmo para os alunos estrangeiros. Os alunos nativos tem uma responsabilidade peculiar; passar o conhecimento da arquitetura local, nacional e contextualizar questões his-tóricas, políticas e sociais. A compreensão do aluno estrangeiro dependente muito do seu colega nativo. Conseqüentemente os grupos de trabalho precisam ser misto, composto depelo menos um estudante local. Os exercí-cios de curto prazo se mostraram bastante eficiente, pois os estudantes tem pouco tempo para desperdiçar tempo - o objetivo de resolver um problema importante e prevalece sobre equívocos e afetações. A dinâmica do exercício é positiva, não existe um trabalho errado, tudo é valido!

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arquivo.Criar memórias para o futuro. No contexto dos processos de transformações sociais e da medialização da nossa sociedade, o valor da própria lembrança, que precede a própria vivência, ganha novos significados. Quando e por quê algumas vivências ficam guardadas em nossas memórias? Como nós, arquitetos podemos trabalhar com as nossas memórias? E como podemos usar as nossas memórias para o desempenho do nosso trabalho? O nosso conhecimento é baseado nas nossas vivências. O “arquivo de memórias” possibilita a criação de um fundamento, ou seja uma biblioteca de vivências, que alimenta a nossa atuação diária como arquiteto.

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comunidade.Viver e trabalhar juntos num grupo composto de nativos e participantes de origens diversas permite uma vivência do cotidiano da cultura visitada. A cultura estrangeira vai sendo incorporada naturalmente. O rítmo do dia a dia, a diversidade culinária, as tradições e costumes desconhecidos se tor-nam como um pano de fundo de uma vivência diferenciada. Os estudantes estrangeiros costumam ser hospedados nas casas dos alunos nativos. Esse contato possibilita uma impressão verdadeira e genuína. O conhecimento do ambiente privado faz parte da verdadeira imersão na cultura desconhecida. Essa experiência é ao mesmo tempo um confronto com as próprias raízes e questiona os próprios costumes.

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2012 sp:lc+df.Em setembro de 2012 foi promovida a 1° SALA VOLANTE, realizada pela Escola da Cidade em parceria com a Universidade Alemã Hochschule HTWG Konstanz. O grupo de 23 alunos - 14 da Escola da Cidade e nove alunos da Alemanha - desenvolveram o projeto dentro do período de três semanas. Durante as atividades, eles contaram com a orientação dos professores da Alemanha Myriam Gautschi, Josef Lenz e Kati Altmann; Juan Pablo Rosselli, da Universidade de Los Andes; Anália Amorim e Maira Rios, da Escola da Cidade.

Com a proposta de discutir os espaços públicos, semi-públicos e privados, o ateliê propôs que os estudantes projetassem uma biblioteca, interpretando e valorizando o espaço público. A premissa era pensar num lugar onde os homens se encontrassem, tomassem conhecimentos de fatos, pensamentos e realizações; um local onde os usuários pudessem experimentar o signifi-cado de coisas que pudessem ser expressas e discutidas por eles, local onde pudessem construir as bases de acordos entre muitos. Uma biblioteca como a casa de muitos, cuidada por todos e por cada um.

A “Sala Volante” contou com diversos colaboradores e mestres, como os arquitetos Eduardo Ferroni, que discutiu com os alunos sobre a cidade de São Paulo, Ruben Otero, que apresentou a área escolhida para o projeto. Também colaboraram Fabienne Hoelzel, coordenadora de Planejamento Urbanístico da Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo (SEHAB), que fez uma apresentação e abriu uma discusão sobre os projetos urbanos do município; e a professora Nilce Aravecchia, que ministrou uma aula prepara-tória sobre Brasília, que os alunos viriam a visitar.

Na segunda semana, o grupo visitou a Biblioteca Mindlin, projetada pelos arquitetos Eduardo de Almeida e Rodrigo Loeb, para a cidade universitária da USP, com visita guiada por Eduardo de Almeida. Além disso foram feitas visitas a diversos pontos da cidade, como o Centro Histórico, edifício Copan, edifício Martinelli, Praça do Patriarca, Conjunto Nacional, Masp – Museu de Arte de São Paulo, Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Parque Trianon, Mube - Museu Brasileiro de Escultura, Centro Cultural Vergueiro, Memorial da América Latina, Sesc Pompéia, Teatro Oficina e Facul-dade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP). Durante a estada no Brasil, os estudantes também puderam conhecer a cidade de Santos, e Brasília.

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3,45 Milhões

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2013 lc:sp+ch.O tema principal da 2° “Sala Volante” era “Tradição”. O evento foi organizado pela Universidade Alemã Hochschule HTWG Konstanz em parceria com a Escola da Cidade. O encontro contou com 13 alunos do Brasil e 17 alunos da Alemanha. Durante as quatro semanas, as atividades foram acompanhadas pelos professores da Alemanha Myriam Gautschi, Alyssa Rau, Sebastian Beck e Anália Amorim e Maira Rios pela Escola da Cidade.

Como no ano anterior, o tema era o espaço público dentro da malha urbana de uma das maiores metrópoles do mundo. Decidimos organizar um evento que questionasse a “tradição” e suas condições de ser um meio de possibi-lidade de trabalhos criativos. Foco da 2# “Sala Volante” eram o espaço de “Cultura” e o espaço de “Natureza”.

Nas primeiras duas semanas, o centro da gravidade era o espaço cultural na região em volta do lago de Konstanz. O tempo da introdução foi aproveita-do para compreender o espaço urbano de Konstanz, sua história, sua mor-fologia urbana e sua escala. Logo na primeira semana os alunos começaram a desenvolver um projeto com o tema “Sagrado e Profano”, lugar da sua atuação era a Igreja “Luther” no centro antigo da cidade.

Diversas visitas percorreram em volta do lago. Em Winterthur o grupo conheceu o museu da indústria manufator e em St. Gallen eles visitaram o Sitterwerk - um lugar de encontro para artistas, operários, pesquisadores - com um grande arquivo de materiais. As visitas foram importante para a compreensão da cultura e seu convívio com a tradição e a memória. Em Fussach na Áustria, o arquiteto Dietmar Eberle deu uma palestra, com muito entusiasmo, apelou para que os jovens arquitetos fossem mais curiosos, agissem e fossem a proucura.

Na segunda parte da “Sala Volante” o grupo partiu para uma viagem na Região dos Alpes Suíços chamada Graubünden. Durante o roteiro tiveram diversos encontros com mestres locais, dentre eles o arquiteto Valerio Olgiati ou o “Chansonnier” Linard Bardill. O engenheiro Jürg Conzett, que levou o grupo para uma trilha de sete pontes - com fase de descanso na Termas de Vals, projeto do arquiteto Peter Zumthor.

Ponto final dessa viagem foi o mosteiro La Tourette. O Frère Marc abriu as portas para o grupo, e a “Sala Volante” tinha o privilegio de fazer parte da comunidade do mosteiro domenicano. Viver a arquitetura de Le Corbusier no cotidiano e terminar a viagem num lugar onde a certeza de fazer parte de uma comunidade prevalece, marcou todos os participantes da “Sala Volante”.

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2014 lc:sp+x.A 3# “Sala Volante” aconteceu na África do Sul durante três semanas do mês de agosto e foi realizado numa parceira entre a Escola da Cidade, a Universidade Alemã Hochschule HTWG Konstanz e a School of Architecture, Planning & Geomatics of University of Cape Town. O encontro contou com a participação de um grupo de oito estudantes da Escola da Cidade, 12 estu-dantes alemães e 12 alunos africanos, além dos professores Myriam Gautschi e Alyssa Rau, pela Universidade de Konstanz; Matteo Franschini e Albertum Crowder, pela Universidade de Cape Town; Anália Amorim e Maira Rios, pela Associação Escola da Cidade.

A primeira semana de atividades coincidiu com o XXV Congresso da União Internacional de Arquitetos, em Durban, e durante o evento, os arquitetos que deram as principais palestras foram convidados para conversar com os 32 estudantes do Summer School. Na segunda semana, os 32 estudantes e sete professores se deslocaram de ônibus de Durban para Cape Town. Este percurso foi feito com paradas em cidades, obras, comunidades, e aproveita-ram-se as paradas noturnas em albergues e hotéis para elaborar os “cartões de memória” e avançar na exposição da produção dos arquivos. Ao longo do percurso foram desenvolvidos pequenos exercícios, aproveitando as chances que o caminho propiciava.

A segunda atividade coletiva aconteceu na terceira e última semana, quando foram feitas propostas urbanas e arquitetônicas para a comunidade de Khayelisha, trabalho que se desenvolveu na biblioteca do local durante três dias. O conceito da “Sala Volante” é poder realizar aulas fora dos espaços da escola. O mundo é o local do aprendizado, e os grandes méritos de ati-vidades como esta se dá a conhecer uma nova cultura histórica, geográfica, urbana, arquitetônica, econômica, política, através da itinerância.

A alta qualidade dos convidados que participaram dos #3 “Sala Volante” foi marca desta atividade e um ponto acalentado e conquistado através da rede de conhecimentos dos professores que o organizaram. As características de cada “Sala Volante” eram únicas.

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2015 lc:sp+rj .A 4# “Sala Volante” foi promovida no final de julho e início de agosto organizada pela Escola da Cidade, em parceria com a Universidade HTWG Konstanz. O tema do evento foi “Quando o moderno não era uma estilo e sim uma causa”.

A “Sala Volante” contou com 9 estudantes da Escola da Cidade e 7 estu-dantes da Universidade de Konstanz. As atividades foram acompanhadas pelos professores da Alemanha Myriam Gautschi e Herman Bentele e pelos Professores da Escola da Cidade Sebastian Beck, Fabio Valentim, Paulo von Poser e Francesco Perrotta Bosch.

A “Sala Volante” começou no Rio de Janeiro com visitas nas obras principais do movimento moderno Carioca. Na maioria das visitas os alunos tive-ram a possibilidade de debater assuntos relacionados à obra visitada com convidados externos. No caso do Parque Guinle, Projeto do Lúcio Costa, a filha do mesmo, Maria Elisa Costa participou nessa conversa e mencionou histórias pessoais dex convivência com seu pai. Na visita da Casa das Canoas o Professor convidado Guilherme Lassance (UFRJ) refletiu sobre a obra do Oscar Niemeyer através de um debate que ouve no passado entre Niemeyer, Bill e Gropius. Os estudantes, por sua vez, estudavam as obras e preparavam perguntas para os convidados.

Além da elaboração das entrevistas, foi elaborado também um arquivo de memórias de viagem, que foi desenvolvido durante as duas semanas. Foi estipulado que alunos trabalhassem com cartões de MDF de 42 x 30 cm, que seriam o suporte das anotações de campo.

Na segunda parte da “Sala Volante”, o grupo se deslocou de ônibus do Rio de Janeiro para São Paulo. Os participantes desenvolveram durante a estadia em São Paulo três exercícios de curto prazo. O ateliê propôs que os estu-dantes projetassem como primeiro exercício um “Pavilhão”, o segundo era uma “Escola” e como terceiro exercício os estudantes projetaram um “espaço de convivência”. A premissa dos três exercícios era pensar em lugares onde os homens se encontram, tomam conhecimento de fatos, pensamentos e realizações; Fio condutor dos exercícios era uma poesia e dois clássicos da música brasileira: a musica “sampa” e “sinal fechado”.

As atividades do ateliê aconteceram sempre das 9h às 13h. No período da tarde os estudantes conheciam a cidade de São Paulo. Foram feitas visitas a diversos pontos da cidade. Em todas as visitas tiveram convidados que debateram com os estudantes as obras visitadas.

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possível imaginar umaescola volante?

Depois quatro eventos, três continentes e seis países, esse trabalho é para comentar o projeto didático, suas conquistas e talvez com risco de exceder, os possíveis rumos para o futuro. Chamamos o evento uma “Sala Volante”, pois a palavra “Volante”, com suas diversas faces parece bastante literal no sentido da proposta de ensino. Procurar a palavra “Volante” no dicionário encontra-se uma multiplicidade de explicações. Uma por exemplo seria, “3 p.ext. que se desloca continuamente, errante, nômade <população v.>”. O re-sultado dessa busca é interessante, pois achamos com “nômade” e “errante” duas palavras provocadoras, que guardam um significado importante para qualquer forma de ensino. O “errante” por sua vez, não é meta nem objetivo do conceito didático, mas ele faz parte. Assim como a palavra volante tem além dos significados colocados, uma outra explicação:” [...] em veículos a motor, essa peça que dá rumo ao veículo”. Com essa face da palavra podemos corrigir qualquer erro e a “Sala Volante” tem sempre a condição de se “deslocar continuamente”. O objetivo da “Sala Volante” é a experiência, e não a verdade. É a experiência que dá sentido à educação. Segundo Jorge Larrosa, “educamos para transformar o que sabemos, não para transmitir o já sabido. Se alguma coisa nos anima a educar é a possibilidade de que esse ato de educação, essa experiência em gestos, nos permita liberar-nos de certas verdades, de modo a deixarmos de ser o que somos, para ser outra coisa para além do que vimos sendo.” [1]

Chegar numa circunstância onde não identificamos as próprias raízes, estamos obrigados a nos livrar da suposta verdade. A “Sala Volante” de uma certa forma permite que nos livremos das verdades pelas quais educamos, e nas quais fomos educados. Essa nova circunstância possibilita ampliar nossa liberdade de pensar sobre a educação. O educador se encontra na mesma situação como o aluno e muitas vezes o aluno nativo consegue explicar o que era irreconhecível para um estrangeiro. É um momento muito interessante pois é uma situação de ensino permeável, ou seja, ensinar não é somente transferir conhecimento e sim criar as possibilidades para sua produção ou construção de conhecimento. Assim surge um processo fluido em que, “aquele que ensina aprende ao ensinar e aquele que aprende ensina ao aprender”. [2]

O título “Sala Volante” surgiu de um livro, escrito pelo autor alemão, Erich Kästner, no ano 1933. O livro em alemão se chama “Das fliegende Klassen-zimmer” , a tradução literal para inglês seria “A Flying Classroom” (Usado como nome do evento a partir do segundo encontro). Compreendemos a “Sala” como compartimento de um todo, podemos constatar, que a “Sala” é a parte menor de um todo, melhor dizendo, da escola.

[1] LARROSA, Jorge, mestre ignorante - cinco lições sobre a emancipação, prefacio, 2002

[2] FREIRE, Paulo, Pedagogia da Autonomia.

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A “Sala Volante” que parece inovador e radical acaba fazendo parte de um ensino programático. Uma vivência externa de curto prazo, chamado também de “International Workshop” ou “International Summerschool”. Muita das vezes esses eventos começam sem muita preparação e com muita sorte, surge no final uma documentação da experiência vivida. É isso que estamos buscando? Seria possível imaginar uma “Escola Volante”? Algo que a formação do arquiteto acontece dentro da “Escola Volante”, ou melhor, nas preparações, nas viagens e nos pós-processamentos? Uma escola livre, sem origem fixo e sem destino concreto. Para se aproximar dessa ideia é interessante consultar “o mestre ignorante - cinco lições sobre a emancipação intelectu-al” de Jacques Rancière. Ele desenvolveu um método de ensino em que o conceito se baseia em três soluções: 1. Todos os homens tem a mesma inte-ligência, 2. Tudo está em tudo e 3. O Mestre não transmite o conhecimento através de explicações. Pode-se ensinar aquilo que se ignora. A primeira solução; todos os homens tem a mesma inteligência, por isso exclua em primeiro lugar o palestrante sábio do palco. Paralelas nós vemos na “Sala Volante” que o palestrante sábio é trocado por um personagem local que compartilha seu conhecimento em uma “mesa” de dialogo com os estudantes. O que aconteceu como experiência no livro do Jacque Rancière é o que acontece com todas as crianças que começam aprender a língua materna. A criança desenvolve a sua própria metodologia. Ela imita, copia, repete, erra, acerta e desenvolve assim capacidades. Ninguém de nós poderiamos dizer exatamente como aprendeu a língua materna. Nunca escutamos alguém dizer “assim eu fiz, pode fazer da mesma forma”. A aprendizagem dentro da “Sala Volante” é parecida, pois o aluno acompanha a vida real dos nativos em um lugar distante e desconhecido. Afinal, quem aprende mais com isso - o nativo ou o estrangeiro? Podemos inverter a lógica de explicar? ” É o explicador que tem necessidade do incapaz, e não o contra-rio, é ele que constitui o incapaz como tal.” [3] Rancière sugere que, em vez de falar de talentos, podemos falar sobre aqui-lo que nós vemos. Dar nome aos fatos sem explicar uma causa. Com isso seria possível dissociar inteligência e potencial. O potencial é menos, não, por causa da falta da inteligência, mas porque menos atenção foi envol-vida na atividade ou na execução. É muito interessante imaginar a “Escola Volante” com os olhos do Jacques Rancière, pois no fundo, arquitetura é a essência do conhecimento, com todas as suas reflexões, sobre aquilo que se deve fazer em certas circunstâncias. Quais são as nossas circunstâncias como arquiteto? O nosso tempo tem a companhia das crises internacionais da economia, da migração e da educação - a “Escola Volante” deveria se inserir nessa realidade. Compre-ender o ensino de arquitetura como uma formação internacional, refletir a própria origem através dos entrelaçamentos globais com seus problemas e dependências, mas também com suas riquezas e diversidades. Arquitetura tem entre todas as escolas, talvez um dos maiores desafios que é: Estabele-cer no contraponto e na concretude um tempo só. São elas: Arte, ciência e técnica. E isso independente do lugar, país e continente. A solução não é a somatória de conhecimento, é uma forma específica de conhecimento que volta ao nosso espírito originário, que é a procura de um caminho próprio profundamente autêntico. Assim podemos concluir com uma frase do arquiteto Vilanova Artigas, recitado pelo Paulo Mendes da Rocha em uma conversa entre os alunos da “Sala Volante de 2015” em São Paulo: “Não se pode ensinar arquitetura, mas pode-se educar um arquiteto!”

[3] RANCIÈRE Jacque, O Mestre Ignorante - cinco lições sobre a emancipação, p.20, 2002

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bibliografia.DIAS, Fabiano, O desafio do espaço público nas cidades do século XXI, vitruvius, 2005

ETH - Studio Basel, Contemporary City Institut, http://www.studio-basel.com/projects/casablanca-15/

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ALUNO Sebastian Friedrich Beck

COORDENAÇÃO Prof. Cris Muniz, Prof. Maira Rios, Carolina Klocker CONTACT Associação Escola da Cidade Rua General Jardim, 65 Vila Buarque [Metrô República] Cep: 01223-011 – São Paulo SP Tel.: +55 (11) 3258 8108 [email protected]

Todas as fotos foram tiradas pelos participantes da “Sala Volante”.

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