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O ATLAS.TI PARA A ANÁLISE DE FOTOS NA PESQUISA QUALITATIVA: UMA DISCUSSÃO ILUSTRADA SOBRE OS MÉTODOS VISUAIS NA EDUCAÇÃO MENDONÇA, José Ricardo Costa de- UFPE MELO, Rita de Cássia Braga de –UFPE PADILHA, Maria Auxiliadora Soares –UFPE Eixo Temático: Comunicação e Tecnologia Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este artigo tem como objetivo discutir o ATLAS.TI como uma ferramenta de análise de fotos em pesquisas qualitativa que utilizem métodos visuais na educação. Para tanto, são discutidos no referencial teórico o uso da fotografia na pesquisa qualitativa e o ATLAS.TI como ferramenta de análise qualitativa de fotos. Leeuwen e Jewitt (2007) indicam que a analise de conteúdo deve ser iniciada com uma pergunta, uma questão de pesquisa precisa sobre categorias analíticas bem definidas. Assim, para efeitos da discussão ilustrativa realizada neste artigo sugere-se a seguinte questão: como evoluiu o ambiente físico nas salas de aula? Quatro fotos de salas de aula foram selecionadas por meio da ferramenta Google Imagens de pesquisa na web. As fotos foram agrupadas inicialmente em relação ao público para as quais elas se destinam - crianças e adultos. Para a definição das categorias de análise relativas à questão ilustrativa proposta, tomou-se como base o modelo proposto por Mendonça, Barbosa e Durão (2004), o qual trata de aspectos do ambiente físico. Assim levando-se em consideração a inspiração da análise semiótica de imagens paradas propostas por Penn (2002), uma das fotos foi subdividida em unidades menores, obtendo-se então como resultados e a utilização do software ATLAS.TI 6.2 a identificação da transformação do ambiente, a montagem de estruturas específicas para se trabalhar o design da sala de aula ao uso de TICs, a utilização da iluminação de maneira geral de forma atenuante, com intensidade maior de luz nos equipamentos tecnológicos, o emprego de cores neutras, calmas, com detalhes nas paredes, na tentativa de evidenciar um ambiente propício a aprendizagem e por fim a evidência física de objetos tecnológicos, assim como sua disposição no ambiente, como significados simbólicos, sugerindo um ambiente propício ao ensino aprendizagem com a integração das TICs e até mesmo a identificação da ausência de um facilitador como forma de evidenciar possíveis mudanças de papéis de docentes e alunos nessa nova perspectiva de ensino e aprendizagem. Provavelmente todas essas evidências talvez não pudessem ser identificadas detalhadamente sem o uso do ATLAS.TI 6.2. Palavras-chave: Análise qualitativa de fotosl, Análise de Conteúdo, Software Atlas TI, Tecnologia.
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O ATLAS.TI PARA A ANÁLISE DE FOTOS NA PESQUISA QUALITATIVA ... · no referencial teórico o uso da fotografia na pesquisa qualitativa e o ATLAS.TI como ferramenta de análise qualitativa

Feb 25, 2020

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O ATLAS.TI PARA A ANÁLISE DE FOTOS NA PESQUISA

QUALITATIVA: UMA DISCUSSÃO ILUSTRADA SOBRE OS

MÉTODOS VISUAIS NA EDUCAÇÃO

MENDONÇA, José Ricardo Costa de- UFPE

MELO, Rita de Cássia Braga de –UFPE

PADILHA, Maria Auxiliadora Soares –UFPE

Eixo Temático: Comunicação e Tecnologia

Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este artigo tem como objetivo discutir o ATLAS.TI como uma ferramenta de análise de fotos em pesquisas qualitativa que utilizem métodos visuais na educação. Para tanto, são discutidos no referencial teórico o uso da fotografia na pesquisa qualitativa e o ATLAS.TI como ferramenta de análise qualitativa de fotos. Leeuwen e Jewitt (2007) indicam que a analise de conteúdo deve ser iniciada com uma pergunta, uma questão de pesquisa precisa sobre categorias analíticas bem definidas. Assim, para efeitos da discussão ilustrativa realizada neste artigo sugere-se a seguinte questão: como evoluiu o ambiente físico nas salas de aula? Quatro fotos de salas de aula foram selecionadas por meio da ferramenta Google Imagens de pesquisa na web. As fotos foram agrupadas inicialmente em relação ao público para as quais elas se destinam - crianças e adultos. Para a definição das categorias de análise relativas à questão ilustrativa proposta, tomou-se como base o modelo proposto por Mendonça, Barbosa e Durão (2004), o qual trata de aspectos do ambiente físico. Assim levando-se em consideração a inspiração da análise semiótica de imagens paradas propostas por Penn (2002), uma das fotos foi subdividida em unidades menores, obtendo-se então como resultados e a utilização do software ATLAS.TI 6.2 a identificação da transformação do ambiente, a montagem de estruturas específicas para se trabalhar o design da sala de aula ao uso de TICs, a utilização da iluminação de maneira geral de forma atenuante, com intensidade maior de luz nos equipamentos tecnológicos, o emprego de cores neutras, calmas, com detalhes nas paredes, na tentativa de evidenciar um ambiente propício a aprendizagem e por fim a evidência física de objetos tecnológicos, assim como sua disposição no ambiente, como significados simbólicos, sugerindo um ambiente propício ao ensino aprendizagem com a integração das TICs e até mesmo a identificação da ausência de um facilitador como forma de evidenciar possíveis mudanças de papéis de docentes e alunos nessa nova perspectiva de ensino e aprendizagem. Provavelmente todas essas evidências talvez não pudessem ser identificadas detalhadamente sem o uso do ATLAS.TI 6.2. Palavras-chave: Análise qualitativa de fotosl, Análise de Conteúdo, Software Atlas TI, Tecnologia.

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Introdução

Cada vez mais o uso de tecnologias no processo de pesquisa científica se faz presente

e necessário. Desde o acompanhamento de temáticas de estudo mais atualizadas, passando

pelo levantamento bibliográfico e coleta de dados, até a análise dos resultados, todas essas

etapas e processos, atualmente, prescindem de Tecnologias da Informação e Comunicação

(TICs).

Tendo em vista a grande variedade de informações e conteúdos disponíveis na

Internet, o acesso à fontes cada vez mais atualizadas e diversidades de posturas teóricas, o

papel do pesquisador torna-se mais complexo. Assumir posições teóricas se torna algo ainda

mais difícil quando a comunidade científica é tão ampla e diversificada.

O uso dessas tecnologias acaba influenciando não apenas a forma como definimos

nossas correntes teóricas, mas também a forma como estruturamos nossos conceitos e

analisamos tais informações. Para Levy (1999, p. 157) as tecnologias da informação e

comunicação também podem ser classificadas como tecnologias intelectuais e elas

Amplificam, exteriorizam e modificam diversas funções cognitivas humanas: memória (banco de dados, hiperdocumentos, arquivos digitais de todos os tipos), imaginação (simulações), percepção (sensores digitais, telepresença, realidades virtuais), raciocínios (inteligência artificial, modelização de fenômenos complexos).

Neste sentido, a utilização de ferramentas tecnológicas nos processos de pesquisa pode

contribuir para um novo processo de aprendizagem sobre as formas como se produz ciência

no mundo.

Dentre os recursos que podemos usar para coleta e análise de dados numa pesquisa

científica, o uso de materiais visuais como fotografias e desenhos são ‘retratos’ da vida real,

que podem contribuir sobremaneira para a compreensão do fenômeno investigado.

Conforme Oliveira, Oliveira e Fabrício (2003, p. 164):

Embora o uso da fotografia enquanto documento tenha sido motivo de discussão durante muito tempo, hoje sabemos que seu uso para provar e atestar discussões, pesquisas ou simples registros do cotidiano é necessário e de grande valor, senão essencial.

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Outra estratégia, com o uso de imagens e fotografias, é a foto-elicitação ou foto-

entrevista. Este é um processo colaborativo, no qual o pesquisador se torna um ouvinte e o

participante interpreta as fotografias para o entrevistador (LOEFFLER, 2004).

Segundo Collier (1973), o processo de foto-elicitação permite um caráter de

proximidade com os objetos durante a entrevista e estimula a memória. É necessário que o

pesquisador apresente as fotografias ao participante da pesquisa com muita habilidade, para

evitar que o mesmo se desvie do tema que se quer realmente focar. A oportunidade projetiva

de fotografias propicia de maneira agradável à auto-expressão e possibilita que o informante

seja capaz de explicar e identificar o conteúdo daquela fotografia demonstrando ao

entrevistado o seu conhecimento sobre o objeto pesquisado. A foto-entrevista permite uma

conversa bastante estruturada sem qualquer efeito inibidor de questionários ou inquéritos

verbais que possam causar constrangimentos ao entrevistado.

Collier (1967) foi o primeiro a descrever a entrevista com foto-elicitação. Este método

tem sido usado para conduzir pesquisas na antropologia, educação, saúde comunitária,

psicologia e sociologia.

No que tange à análise de dados, o uso de tecnologias vem se diversificando a cada

pesquisa. Vários são os softwares que auxiliam na estruturação de informações para posterior

análise e tratamento por parte do pesquisador. Essa estruturação, dependendo dos recursos do

software, possibilita uma maior diversidade de combinações entre os dados que podem

‘amplificar’ a visão do pesquisador sobre um determinado dado.

Também chamados de “pacotes de programas qualitativos”, esses programas

proporcionam uma maior celeridade ao processo de análise, principalmente, àqueles que

possuem grandes quantidades de dados, com um grande nível de credibilidade, mesmo nas

áreas de Ciências Sociais e Humanas (MANGABEIRA, 2001).

Chamamos a atenção que, embora os recursos tecnológicos tenham dado uma grande

contribuição para a análise de dados qualitativos, Gaskell (2002, p. 88) afirma que “os

computadores não farão nunca o trabalho intuitivo e criativo que é parte essencial da análise

qualitativa. No máximo, eles irão apoiar o processo e oferecer uma representação do resultado

da análise”.

A pesquisa qualitativa procura entender e explicar o significado dos fenômenos sociais

(MERRIAM, 1998). Observa-se que a pesquisa qualitativa responde a questões particulares,

enfoca um nível de realidade que não pode ser quantificado, além de trabalhar com um

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universo de múltiplos significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes

(MINAYO, 2006). Os métodos visuais, os quais têm suas origens na Sociologia e na

Antropologia, constituem uma das abordagens adotadas nas pesquisas qualitativas.

A abordagem visual é um enfoque metodológico no qual o pesquisador utiliza as

imagens como fonte de dados ao estudar um fenômeno social, sejam elas imagens estáticas

(fotografias) ou imagens em movimento (filmes e vídeos). Como método de pesquisa, a

abordagem visual leva em consideração aspectos como a subjetividade do indivíduo que

registra as imagens, bem como aquilo que ele escolheu incluir ou excluir da fotografia, ou

seja, do recorte da realidade que foi capturado.

Ainda que o uso da fotografia como um documento tenha sido motivo de discussão

durante muito tempo, atualmente o seu uso para provar e atestar discussões, pesquisas ou

simples registros do cotidiano é necessário e de grande valor, senão essencial (OLIVEIRA;

OLIVEIRA; FABRÍCIO, 2003). Flick (2004, p 161) ao discutir as fotografias como

instrumento e objeto de pesquisa, salienta que “as fotografias, os filmes e o vídeo são cada

vez mais utilizados como formas genuínas e fontes de dados”. A capacidade da imagem

fotográfica de conter informações de maneira econômica e confiável torna possível uma

catalogação mais eficiente de dados nas pesquisas qualitativas em educação.

Aliado a adoção de métodos visuais na pesquisa qualitativa em educação defende-se

nesse artigo a possibilidade e a relevância do uso de softwares de análise qualitativa. O

software escolhido e empregado para as análises neste trabalho foi o ATLAS.TI versão 6.2.

De acordo com Lima (2005, p. 8) o ATLAS.TI pode ser definido como “um aplicativo

de informática especialmente concebido para a análise qualitativa de dados, sob a forma de

texto, imagens ou registro sonoro, segundo a técnica de codificação prevista na teorização

embasadai”. A sigla ATLAS vem do alemão, Archiv fuer Technik, Lebenswelt und

Alltagssprache, e pode ser traduzida para o português como “arquivo para tecnologia, o

mundo e a linguagem cotidiana”, assim como a sigla TI expressa o termo interpretação de

texto (BANDEIRA-DE-MELLO, 2006).

Argumenta-se que a adoção de métodos visuais de coleta e análise de dados em

pesquisas em educação associados ao uso de softwares de análise de dados oferece riqueza de

informações aos estudos na área, pois o uso de fotos pode proporcionar objetividade e

credibilidade, na medida em que uma imagem fornece evidência tangível de determinado

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fenômeno, e a utilização de um software permite a gestão e o processamento de um volume

significativo de dados em tempo reduzido e com confiabilidade.

Pelo exposto, o objetivo deste artigo é discutir o ATLAS.TI como uma ferramenta de

análise de fotos em pesquisas qualitativa que utilizem métodos visuais na educação.

A seguir são apresentados e discutidos os fundamentos teóricos que nortearam a

realização deste trabalho.

O uso da fotografia na pesquisa qualitativa

Patton (2002) destaca o crescente o uso de fotografias e de vídeos nas pesquisas

qualitativas. As fotos podem ajudar a recordar (elicitar) coisas que aconteceram, bem como

capturar o ambiente vividamente para a observação de outros indivíduos (PATTON, 2002).

Flick (2004) salienta que a fotografia tem uma longa tradição na antropologia e na etnografia.

O autor assinala quatro tipos de relações entre o pesquisador e os pesquisados ao se utilizar

fotografias, apresentados no Quadro 1 a seguir:

Tipos de Relações entre Pesquisador-Pesquisados

Tipo I O pesquisador pode, como demonstrador, exibir fotografias a uma pessoa em estudo (espectador), fazendo-lhe perguntas a respeito das imagens.

Tipo II O operador, ou seja, quem tira a fotografia, pode empregar o indivíduo pesquisado como um modelo. Tipo III O pesquisador, como espectador, pode pedir ao sujeito (como demonstrador) que lhe mostre

fotografias sobre determinado tópico ou período Tipo IV O pesquisador (espectador) pode observar o sujeito da pesquisa (como operador) enquanto ele tira

fotografias e, posteriormente, o pesquisador conduz uma análise da opção temática fotografada. Quadro 1 - Tipos de Relações entre Pesquisador-Pesquisados em Estudos com Fotografias

Fonte: baseado em Flick (2004).

Oliveira, Oliveira e Fabrício (2003, p. 154) ao discutirem as imagens na

pesquisa com professores, salientam que:

A pesquisa qualitativa, primando pela leitura, pela interpretação, pela aproximação das possíveis e diferentes configurações que um problema de investigação assume e as dimensões possíveis de enfoque quando pensamos na complexidade, rejeita abordagens redutoras e reducionistas, privilegiando aportes teórico-metodológicos que permitam investigações a partir da multireferencialidade dos fenômenos, dos fatos sociais e dos problemas a serem estudados.

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O registro fotográfico contribui como fator de controle para a observação visual direta,

pois as fotografias são registros preciosos da realidade material (COLLIER, 1973). Caulfield

(1996) defende que as imagens refletem o mundo vivo e as relações sociais entre os

participantes; as fotografias frequentemente são elementos formativos da vida social e as

imagens podem reter informações documentais sobre os seus sujeitos.

O uso de fotos com o objetivo de aprofundar os relatos nas pesquisas em

educação busca tornar a realidade contada mais rica em detalhes e propiciar a aproximação do

pesquisador com o fenômeno estudado (OLIVEIRA; OLIVEIRA; FABRÍCIO, 2003).

De acordo com Loizos (2002) a utilização de imagens libera memórias

submersas, criando um momento de construção compartilhada entre o pesquisador e

pesquisado. Loizos (2002, p. 143) enfatiza ainda ao discutir o emprego de imagens

fotográficas que a sua utilização:

Pode servir como um desencadeador para evocar memórias de pessoas que uma entrevista não conseguiria, de outro modo, que fossem relembradas espontaneamente, ou pode acessar importantes memórias passivas, mais que memórias ativas, presentes.

Também é importante lembrar que as fotografias incitam tais memórias de maneiras

diferentes entre as pessoas e, por isso, é necessário considerar os contextos específicos de

cada entrevistado, no conjunto de interpretações dadas por estes.

Com base em Flick (2004) podem ser apontadas algumas vantagens no uso de câmeras

como ferramentas de coleta de dados nas pesquisas sociais, em especial em educação: 1) as

câmeras permitem registros (gravações) detalhados de fatos; 2) proporcionam apresentação

mais abrangente e holística de estilos de vida e de condições sociais; 3) possibilitam o

transporte de artefatos e a apresentação destes como retratos; 4) permitem a transgressão de

limites de tempo e espaço; 5) podem capturar fatos e processos que sejam muito rápidos ou

complexos para o olho humano; 6) permitem registros (gravações) não-reativas das

observações; 7) são menos seletivas que as observações; e 8) as fotografias ficam à disposição

de outras pessoas para serem reanalisadas.

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Tendo sido realizadas considerações sobre a utilização de fotos nas pesquisas

qualitativas, discute-se a seguir a adoção do software ATLAS.TI para a análise de dados

qualitativos.

O atlas.ti como ferramenta de análise qualitativa de fotos

De acordo com Bandeira-de-Mello e Cunha (2003) o ATLAS.TI foi desenvolvido pela

Scientific Software Development, com o objetivo de construir teorias, possibilitando aos

pesquisadores a realização de auditoria para comprovação da validade e confiabilidade dos

resultados, por meio da emissão de dois relatórios, contendo o histórico do processo de

análise e de codificação, assim como a descrição e comentários dos elementos da teoria.

Em seu projeto original, o ATLAS.TI foi influenciado pela Grounded Theory. Nesta

abordagem de pesquisa, de acordo com Creswell (2007), o foco é o desenvolvimento de uma

teoria embasada nos dados obtidos no campo. As unidades de análise (ou categorias) são

unidades de informação que podem ser processos, ações ou interações envolvendo vários

indivíduos. Como estratégias de análise de dados na Grounded Theory são utilizadas a

codificação aberta, a codificação axial e a codificação seletiva (CRESWELL, 2007).

Durante o processo de codificação aberta, os dados coletados são divididos em

segmentos e, em posteriormente, são examinados na busca de comunalidades que podem

refletir categorias ou temas. Após os dados terem sido categorizados eles devem ser

analisados em busca de propriedades que caracterizem cada categoria. As propriedades são

atributos específicos de uma categoria ou de subcategorias. Cabe ao pesquisador examinar e

identificar o significado dos dados por meio de questionamentos, realização de comparações e

busca por similaridades e diferenças entre os comentários. Dessa forma, comentários

(incidentes e eventos; fenômeno) são agrupados em formas de categorias. Basicamente, a

codificação aberta é um processo pelo qual os dados são reduzidos a pequenos conjuntos de

temas que parecem descrever o fenômeno que está sob investigação.

No processo de codificação axial, conexões são realizadas entre as categorias e

subcategorias. Isto envolve agrupar os dados de novas maneiras por meio das conexões entre

as categorias. Este novo agrupamento é atingido explorando-se as condições, o contexto, as

ações e estratégias interacionais, e as consequências as quais influenciam o fenômeno

estudado. Busca-se compreender mais específicamente cada categoria em termos das

condições que deram origem a elas, o contexto no qual cada uma está embricada, as

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estratégias que as pessoas usam para lidar com as mesmas, além das consequências das

estratégias adotadas. Na medida em que a codificação aberta e a codificação axial

continuamente refinam as categorias e as suas interconexões, salienta-se que dados adicionais

podem ser coletados.

A codificação seletiva é um processo que consiste em escolher as categorias

centrais, principais, e sistematicamente relacioná-las umas com as outras. Simultaneamente, o

processo envolve a validação dessas relações e a complementação de qualquer categoria que

talvez requeira ser mais bem refinada ou desenvolvida. Durante a codificação seletiva as

categorias e suas inter-relações são combinadas em forma de uma storyline que descreve o

que acontece no fenômeno estudado.

Salienta-se, entretanto, que o ATLAS.TI pode ser utilizado em diversas abordagens de

pesquisa além da Grounded Theory, não estando o objetivo do software vinculado a

automação do processo de análise, mas ao desenvolvimento de uma ferramenta capaz de

apoiar e facilitar a interpretação humana (MUHR, 1991 apud WALTER; BACH, 2009).

Neste artigo o tipo de análise adotada foi a análise de conteúdo. A análise de conteúdo

pode ser definida como um procedimento empírico (observacional) e objetivo para registrar

representações áudio-visuais, incluindo representações verbais, utilizando-se categorias

confiáveis, explícitas e definidas (LEEUWEN; JEWITT, 2007). Como fundamentação teórico

para a operacionalização dos procedimentos de análise do conteúdo das fotos neste artigo,

adotou-se Bardin (2011), a qual estabelece três momentos no tratamento dos dados: a pré-

análise; a exploração do material; o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

Walter e Bach (2009) chamam a atenção para o fato de que o software ATLAS.TI

permite a análise e o gerenciamento de diferentes tipos de documentos, entre eles textos

(respostas de questionários aplicados não-estruturados, transcrição de entrevistas, relatórios

com observações de diário de campo, documentos, cartas); áudios de entrevistas e reuniões;

músicas; imagens como fotos, desenhos, pinturas; vídeos referentes a pesquisas semi-

experimentais; filmes; reportagens de televisão; dentre outros. Desta maneira defende-se a

utilização do software ATLAS.TI como ferramenta na pesquisa em ciências sociais e

humanas, por ser um aplicativo de análise de dados qualitativos útil na organização, no

reagrupamento e na gestão de todos os dados obtidos em estudos observacionais (com ou sem

o uso de imagens), em pesquisas documentais, em entrevistas e em outras técnicas de coleta,

proporcionando um maior aprofundamento das análises.

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Bandeira-de-Mello e Cunha (2003) descrevem os elementos constitutivos do

ATLAS.TI, como pode ser visualizado no Quadro 2 a seguir. A compreensão destes

elementos constitutivos se faz necessária para o entendimento dos relatórios gerados pelo

software.

ELEMENTOS DESCRIÇÃO

Unidade hermenêutica (Hermeneutic unit)

Reúne todos os dados e os demais elementos.

Documentos primários (Primary documents)

São os dados primários coletados. Em geral, são transcrições de entrevistas e notas de campo e de checagem. São denominados de Px, onde x é o número de ordem.

Citações (Quotes)

Trechos relevantes das entrevistas que geralmente estão ligados a um código. Sua referência é formada pelo número do documento primário onde está localizada, seguido do seu número de ordem dentro do documento. Também constam da referência as linhas iniciais e finais.

Códigos (Codes)

São os conceitos gerados pelas interpretações do pesquisador. Podem estar associados a uma citação ou a outros códigos. São indexados pelo nome. Apresentam dois números na referência. O primeiro se refere ao número de citações ligadas a ele; e o segundo, ao número de códigos. Os dois números representam, respectivamente, o grau de fundamentação (groundedness) e o de densidade (density) do código.

Notas de análise (Memos)

Descrevem o histórico da interpretação do pesquisador e os resultados das codificações até a elaboração final da teoria.

Esquemas (Netview)

São os elementos mais poderosos para exposição da teoria. São representações gráficas das associações entre os códigos (categorias e subcategorias). O tipo das relações entre os códigos é representado por símbolos.

Comentário (Comment)

Todos os elementos podem e devem ser comentados, principalmente os códigos, fornecendo informações sobre seu significado.

Quadro 2 – Principais elementos constitutivos do ATLAS.TI

Fonte: Bandeira-de-Mello e Cunha (2003)

Segundo Rodrigues, Vosgerau e Junqueira (2008, p. 9) “o código (code) é um

indicador que ajuda na análise qualitativa para identificar um agrupamento de citações

(quotations) que têm elementos comuns e um significado próprio para a pesquisa a ser

desenvolvida”. Ainda segundo os autores, os códigos permitem o agrupamento das unidades

de sentido, das citações do texto ou elementos da imagem.

As notas de análise, ou memos do processo da criação de códigos (pequenos textos

interpretativos, referências que corroborem a informação codificada ou outras informações

sobre a citação consideradas importantes) facilitam a análise de dados, bem como a passagem

para o nível conceitual de análise (RODRIGUES; VOSGERAU; JUNQUEIRA, 2008).

A primeira atividade da análise conceitual é, de acordo com Rodrigues, Vosgerau e

Junqueira (2008), o estabelecimento de relações entre as citações (quotations) e as descrições

criadas durante a análise. Com o ATLAS.TI, os códigos e as notas de análises (memos)

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ligadas aos códigos podem ser agrupados em “famílias” para elaboração de esquemas

(networks views) que darão suporte aos resultados encontrados, pois essas netviews ajudam na

análise conceitual, permitindo a visualizar das conexões existentes entre as informações

codificadas na fase de análise (RODRIGUES; VOSGERAU; JUNQUEIRA, 2008).

A seguir é apresentado, uma simulação, uma discussão ilustrativa do uso do

ATLAS.TI na análise de fotos em pesquisas em educação.

Discussão ilustrativa - o atlas.ti para a análise qualitativa de fotos na pesquisa em educação

O teor (o que analisar – itens e textos) da análise de conteúdo pode ser visual,

verbal, gráfico ou oral, ou seja, pode ser qualquer tipo de informação visual/verbal

significativa (LEEUWEN; JEWITT, 2007).

Segundo Leeuwen e Jewitt (2007) a analise de conteúdo deve ser iniciada com uma

pergunta, uma questão de pesquisa concisa sobre categorias analíticas bem definidas. Para os

autores apenas quando uma ou mais questões são formalizadas as categorias relevantes para o

estudo tornam-se evidentes. Assim, para efeitos da discussão ilustrativa sobre o uso do

ATLAS.TI como ferramenta de análise de fotos, neste artigo sugere-se a seguinte questão

subjacente: como evoluiu o ambiente físico nas salas de aula presenciais?

No sentido de subsidiar a análise ilustrativa e responder à questão proposta acima,

quatro fotos de salas de aula foram selecionadas por meio da ferramenta Google Imagens de

pesquisa (busca) na web. As fotos foram agrupadas inicialmente em relação ao público para as

quais elas se destinam - crianças e adultos – como pode ser observado na Figura 1, a seguir:

Foto 1 - Sala de Aula Vitoriana para Crianças Foto 2 - Sala de Aula Tradicional para Criança

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Fonte: Google imagensii Fonte: Google imagensiii

Foto 3 - Sala de Aula Tradicional para Adultos Foto 4 - Sala de Aula com TICs para Adultos

Fonte: Google imagensiv Fonte: Google imagensv Figura 1: Fotos ilustrativas de diferentes salas de aula

Fonte: Google Imagens (http://www.google.com.br/imghp?hl=pt-BR&tab=wi)

De acordo com Leeuwen e Jewitt (2007) as unidades visuais/verbais de

significado, as quais são o objeto da análise de conteúdo, são definidas pelo meio (mídia) no

qual elas são produzidas como isoláveis, auto-contidas ou separadas. Dessa forma, as

categorias de conteúdo (visual) devem ser definidas explicitamente e sem ambigüidade e

empregadas consistentemente para a variedade de evidências significativas que são relevantes

para a questão de estudo (LEEUWEN; JEWITT, 2007).

Para a definição das categorias de análise relativas à questão proposta no início deste

item, tomou-se como base o modelo proposto por Mendonça, Barbosa e Durão (2004),

apresentado na Tabela 1 a seguir:

Tabela 1 - Critérios para a Análise das Condições Ambientais

Fonte: baseado em Mendonça, Barbosa e Durão (2004).

CONDIÇÕES AMBIENTAIS

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Ambiente Interno Ambiente Externo • Arquitetura interna e Decoração • Layout • Móveis e Equipamentos • Iluminação • Cores • Sinais, Símbolos e Objetos

• Arquitetura Externa • Cores • Sinais, Símbolos e Objetos • Paisagismo • Entrada • Tamanho do prédio

Tomando como base as categorias de análise propostas por Mendonça, Barbosa

e Durão (2004) e com a utilização do software ATLAS.TI 6.2 foi realizada a análise da Foto

4, assim como levou-se em consideração como inspiração a análise semiótica de imagens

paradas propostas por Penn (2002) que de uma maneira geral propõe que o processo de

análise pode ser delineado por um procedimento de dessecação em unidades menores,

seguido de um processo de reconstrução da imagem, cujo objetivo é mostrar ao leitor a

compreensão, o significado, uma explicação da imagem.

Penn (2002) menciona ainda a necessidade de se recorrer a alguns estágios para

a análise das imagens, em que o primeiro estágio estaria relacionado à escolha das imagens a

serem analisadas, que dependerá do objetivo do estudo, o segundo direcionado a identificação

ou listagem dos elementos na imagem e o terceiro estágio relativo à análise de níveis de

significação mais elevados, sendo afirmado teoricamente por Penn (2002) que o processo em

si nunca se esgota e consequentemente nunca está completo, podendo-se achar inclusive

outras maneiras de se ler uma imagem.

Assim a Foto 4, a qual ilustra uma sala de aula para adultos com o uso de

Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), foi analisada de acordo com o quadro

teórico de referência constante na Tabela 1, referente ao ambiente interno. Como

procedimentos de análise foram seguidos os passos descritos a seguir.

Após a escolha dos documentos, Figura 1, foi criada e organizada uma pasta

denominada ProjAtlasimag no Windows Explorer, em Documentos, a qual, salienta-se não

pode ser mais renomeada e cuja denominação deve ser escrita sem espaços e sem acentos.

Posteriormente, foram criadas na pasta ProjAtlasimag subpastas, com a inserção dos

documentos de análise, que neste caso houve a decisão por parte dos pesquisadores da Foto 4

– Sala de Aula com TIC’s para Adultos (imagem em jpg), optando-se pela observação visual

direta do registro fotográfico como fator de maior controle da realidade, corroborando com o

proposto por Collier (1973).

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Na continuidade do processo de análise o software ATLAS.TI e para construção dos

principais elementos constitutivos do programa, de acordo com Bandeira-de-Mello e Cunha

(2003), o ATLAS.TI foi inicializado, em “File”, depois em “New Hermeneutic Unit”, e

novamente em “File”, “ save as”, indo-se em busca dos documentos já organizados no

Windows Explorer, dando nome ao projeto e salvando-os, denominados neste caso de

Projanalsfotos12092011, pois a unidade hermenêutica foi criada em 12 de setembro de 2011.

Visando introduzir a Foto 4 no ATLAS.TI foi necessário abrir o ícone p-docs, o qual

se refere a Primary documents. Levando-se em consideração as categorias de análise

propostas por Mendonça, Barbosa e Durão (2004) foram criadas os codes “arquitetura interna

e decoração”, “layout”, “móveis e equipamentos”, “iluminação”, “cores”, “sinais”,

“símbolos” e “objetos”, permitindo-se então, como proposto por Penn (2002), proceder-se ao

corte da imagem em pedaços menores na tentativa de maior compreensão e explicação da

Foto 04. Este procedimento encontra-se ilustrado na Figura 2, a seguir:

Figura 2 - Inserção dos Codes por meio do ATLAS TI 6.2.

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Em seguida foi selecionada para categorização de partes menores da imagem, com o

objetivo de evidenciar a realidade contada em detalhes e proporcionar aos pesquisadores

maior proximidade com o fenômeno estudado, e, com o botão direito do mouse, clicou-se em

“Coding”, “ Coding by list”, o que permitiu selecionar e fechar, como pode ser visualizado na

Figura 3, a seguir, estando esse procedimento também legitimado pelas contribuições de

Oliveira, Oliveira e Fabrício (2003) quando mencionam a utilização de fotos proporcionando

o aprofundamento dos relatos nas pesquisas em educação:

Figura 3 - Seleção de partes da imagem para categorização por meio do ATLAS TI 6.2

Salienta-se que no momento de inserção dos codes, julgou-se necessário a introdução

de memos, que são notas, lembretes, diário de interpretação, apontamentos do processo,

possíveis associações, dentre outros, com o objetivo de facilitar a análise dos dados,

apoiando-se nos aportes teóricos de Rodrigues, Vosgerau e Junqueira (2008) quando

mencionam que as notas de análise, memos ajudam no acesso para o nível conceitual da

análise. A Figura 4, a seguir, apresenta o processo de inserção de um memo:

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Figura 4 - Inserção de memos por meio do ATLAS TI 6.2

As memos inseridas foram: 1- ME - 12/09/2011 – “A categoria Layout é parte

da categoria Arquitetura Interna e Decoração”; e 2 - ME - 14/09/2011 – “Alguns

equipamentos podem também ser usados para exemplificação de sinais simbólicos para a

influência do uso de objetos tecnológicos no processo de ensino aprendizagem”. Após terem

sido realizadas as memos, foram estabelecidos links no ATLAS.TI entre a ME – 12/09/2011e

a categoria Layout e a ME - 14/09/2011 e a categoria Móveis e Equipamentos.

Foram feitos comentários de todas os codes, fornecendo informações sobre seus

significados, por meio da utilização da ferramenta comment do ATLAS.TI. Uma das análises

pode ser visualizada na Figura 5 a seguir:

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Figura 5 - Inserção de comments por meio do ATLAS TI 6.2

As análises realizadas com o auxílio da função comment do ATLAS.TI foram

as seguintes:

Arquitetura Interna e Decoração - a arquitetura interna exibida na Foto 4 se

diferencia das demais, percebendo-se uma transformação do ambiente, adaptando-se ao uso

de TICs;

Layout - este item é parte da Arquitetura Interna e Decoração, sendo de importante

relevância, considerando a montagem de estruturas específicas para se trabalhar o design da

sala de aula para a utilização de TICs;

Móveis e equipamentos - a escolha de móveis e equipamentos, assim como a sua

disposição no ambiente parece dar evidências da evolução do ambiente físico com a utilização

das TICs;

Iluminação - a iluminação do ambiente é utilizada de maneira geral de forma

atenuante, com foco maior de luz nos equipamentos tecnológicos, evidenciando sua

importância e sua ligação com o ambiente interno;

Cores - as cores, tonalidades e suas combinações geram sensações diferenciadas,

sendo utilizada na Foto 4 cores neutras, calmas, com detalhes nas paredes, na tentativa de

evidenciar um ambiente propício a aprendizagem; e

Sinais, Símbolos e Objetos – a análise desta categoria evidencia a influência do uso

de objetos tecnológicos, como mouses, teclados, monitores, datashow em substituição das

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anotações feitas de forma manual em sala de aula e apesar da presença de caderno, papel,

estojo e caneta, os mesmos não se configuram como elementos principais da foto, mas sim em

uma perspectiva provavelmente mais secundária, de parte do processo, de certa forma numa

perspectiva de figurantes, não como elementos principais. Assim como a disposição dos

equipamentos, dos objetos, comunicam significados simbólicos, sugerindo um ambiente

propício ao ensino com a integração das TICs ao processo de ensino e de aprendizagem.

Ambiente interno – refere-se aos elementos de evidência física e visual do ambiente.

Foi percebido neste ambiente a ausência de uma facilitador que possa ser identificado na foto.

A Figura 6 apresenta todas as inserções dos quatro elementos principais interligados

do ATLAS.TI (Quadro 2), que são os documentos primários (P-Docs), citações (Quotes),

códigos (Codes) e notas (Memos), que estão localizados dentro do “projeto”, que é a unidade

hermenêutica Projanalsfotos12092011:

Figura 6 - Inserção de p-docs, quotes, codes e memos por meio do ATLAS TI 6.2

Após o processo descrito acima, chegou-se a uma representação gráfica de associações

entre os códigos, com a formação da network referente à análise do ambiente interno. A

network criada é apresentada na Figura 7, a seguir:

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Figura 7 – Network das associações entre os códigos por meio do ATLAS TI 6.2

É importante salientar que também podem ser criadas networks menores para facilitar

as análises, como uma network apenas da categoria Arquitetura Interna e Decoração, por

exemplo. O objetivo deste processo é proporcionar ao pesquisador facilidades na identificação

de relações, gerenciando os elementos de apoio para se chegar as conclusões.

Em qualquer momento das análises, caso se ache necessário, é possível

visualizar as relações entre codes, quotations, memos, comments e networks. O software

ATLAS.TI 6.2 permite também a produção de diversos relatórios, como, por exemplo,

visualização dos comentários relativos as codes, os quais auxiliam o processo de análise:

Salienta-se que a criação de conexões entre as categorias, as partes codificadas,

as notas de análise e os comentários foram importantes para o surgimento de insights, os quais

apoiaram a identificação e a análise visual e simbólica de como evoluiu o ambiente físico em

sala de aula, tomando como base o que é proposto por Mendonça, Barbosa e Durão (2004) e

por Penn (2002).

Considerações Finais

A utilização do software ATLAS.TI proporciona ao pesquisador a possibilidade de

visualização e integração de todos os dados, detalhes, teias, insights, de forma ao mesmo

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tempo intuitiva e objetiva, permitindo a exploração, manejo e o gerenciamento dos dados de

maneira mais focada, inclusive proporcionando uma migração ou avanço tecnológico do

processo artesanal de análise por meio da utilização de lápis e papel para uma análise mais

integrada. Permite ainda a construção de uma pesquisa com a utilização de materiais gráficos,

de áudio e vídeo e o gerenciamento de diferentes tipos de documentos, de acordo com Walter

e Bach (2009).

Um ponto importante que necessita ser evidenciado é que conforme Muhr

(1991 apud WALTER; BACH, 2009) mencionam, o objetivo do software ATLAS.TI não á a

automação do processo, nem a emissão de relatórios construídos pelo próprio programa, pois

o mesmo responderá e dará resultados dependo da forma como for programado e guiado pelo

pesquisador, sendo portanto mais uma ferramenta eficaz na pesquisa em educação, no sentido

de proporcionar ao ser humano facilidades de organização, reagrupamento, interpretação e

gerenciamento de dados.

Com a utilização do ATLAS.TI foi possível, por meio da análise da Foto 04, a

identificação detalhada da transformação do ambiente da sala de aula presencial, a montagem

de estruturas específicas para se trabalhar o design da sala de aula ao uso de TICs,

evidenciando a mudança tecnológica necessária para adequação de novas demandas do

processo de ensino e aprendizagem. No ambiente interno proposto pela Foto 04 percebe-se

também a utilização da iluminação de uma maneira geral de forma atenuante, com intensidade

maior de luz e focos explícitos nos equipamentos tecnológicos, com o emprego de cores

neutras, calmas e com detalhes nas paredes, na tentativa de evidenciar um ambiente propício a

aprendizagem e por fim a evidência física de objetos tecnológicos, assim como sua disposição

no ambiente, com significados simbólicos, sugerindo um ambiente propício ao ensino

aprendizagem com a integração das TICs e até mesmo a percepção da ausência de um

facilitador presente na Foto 04, em detrimento da evidência explícita dada ao docente nas

demais fotos, onde todos encontram-se de pé, em um posicionamento diferenciado dos demais

nas fotos, podendo evidenciar a mudança de papéis, não só do docente, mas também dos

alunos, nessa nova perspectiva de ensino e aprendizagem. Todas essas evidências talvez não

pudessem ser identificadas detalhadamente sem o uso do ATLAS.TI, sendo capaz de

explicitar evidências que talvez sem o seu uso não fossem passíveis de identificação e análise.

Acredita-se que os achados podem contribuir como insights para a realização

de pesquisas futuras. Sugere-se que sejam pesquisadas todas as fotos ilustradas, com a

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identificação da época em que foram tiradas e definição do tempo cronológico de evolução do

ambiente físico da sala de aula presencial, assim como a inclusão de outros tipos de

documentos, para uma análise ainda mais aprofundada do fenômeno.

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podera-fazer-curso-superior-sem-pagar-financiamento&docid=Z5D7xoIiptK5pM&w=590&h=443&ei=hXWTTv_aKIXf0QGVkq1a&zoom=1 iv Disponível em: http://www.google.com.br/imgres?q=fotos+de+sala+aula&hl=pt-BR&sa=X&biw=1024&bih=661&tbm=isch&prmd=imvns&tbnid=VlM_3yigfpk-tM:&imgrefurl=http://100porcentoaprendizagem.blogspot.com/2010/11/orientacoes-e-metodos-didaticos.html&docid=Xy4lwBeIm-L3hM&w=435&h=321&ei=hXWTTv_aKIXf0QGVkq1a&zoom=1 v Disponível em: http://www.google.com.br/imgres?q=fotos+de+sala+aula&hl=pt-BR&sa=X&biw=1024&bih=661&tbm=isch&prmd=imvns&tbnid=nE_z0duL1Ohh_M:&imgrefurl=http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Sala_aula_1.jpg&docid=aWFBxJ0THJSoIM&w=4288&h=2848&ei=hXWTTv_aKIXf0QGVkq1a&zoom=1